sábado, 17 de novembro de 2007

Num banco de jardim



Os meus pés já mal se arrastam um atrás do outro... já quase nem tenho forças para me amparar no velho cajado... mas recuso-me a ficar arrumado no cadeirão do meu quarto, esperando os dias passarem iguais.
(…/…)
Ah, como eu tenho pena de vocês...
Observo o vosso olhar e vejo o nada.
Transportam as vossas pastas de executivo e dão ordens às secretárias, enquanto engolem, apressados, um café na pastelaria da esquina, mas os vossos corações estão ocos. Desprovidos de sentimento...
(…/…)
A vossa indiferença perturba-me. Não do modo que vocês pensam, mas perturba-me o facto de, quando se encontrarem na meta final, como eu, não terem nada. Vocês vão olhar para trás, para o vosso caminho percorrido e verão apenas contas bancárias, acções, transacções comerciais... e nada disso vos dará alegria. Nada vos irá fazer sorrir, porque não semearam Amor à vossa volta...
Enquanto eu, o velho tonto, como vocês me chamam, tenho um baú dourado de recordações... memórias que deixam um rastro luminoso na minha alma e me provocam uma sensação de felicidade conquistada em cada dia que vivi... eu posso olhar para trás e sorrir. Um sorriso feliz e tranquilo porque toda a minha vida foi pautada pelo Amor. Amei cada Amigo que cruzou a minha estrada. Amei as crianças e o seu olhar inocente. Amei o Amor. Amei a Vida.
A vossa indiferença perturba-me, sim, porque não posso chegar ao pé de vocês e gritar para pararem.
(…/…)

Tanta coisa eu queria dizer-vos... mas vocês acusar-me-iam de senilidade e eu apenas posso sentir pena de vocês... Pensam que eu estou só, mas são vocês as maiores vítimas de solidão.
Eu tenho a minha loucura, como vocês dizem, mas a minha loucura chama-se Amor e eu nunca estarei só, no meu banco de jardim.

1998

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente fotografia que nos transmeite todo o sentido da mensagem descrita.

Pauleta

http://www.nunobotelhophotography.blogspot.com/

http://www.flickr.com/photos/nunopauleta/